Minha história sobre infertilidade
3 de agosto de 2017
Apesar de a maioria das pessoas não terem a menor vergonha de te perguntar quando é que você vai ter filhos, quando você diz que sofre problemas de infertilidade elas sempre ficam sem graça e mudam rapidinho de assunto. Haha. Fertilidade (ou a falta de) é mais um tabu da vida.
Eu entendo completamente casais tenham dificuldade de falar sobre assunto, já que é tão íntimo do casal—assim como a hora de ter filhos. Contudo, como eu não tenho muita vergonha de nada e praticamente desconheço o significado da palavra tabu, resolvi dividir o que eu tenho feito para lidar com a infertilidade. Espero do fundo do coração poder ajudar outras pessoas que estão passando pelo mesmo problema.
Eu nunca fui do tipo de menina que sonhava em se tornar mãe. Enquanto a minha irmã Marina brincava de mamãe e filhinha com as bonecas, minhas Barbies eram sempre independentes, donas de uma cobertura (a cama de cima da beliche) e de seu próprio negócio de moda. Depois de alguns anos de casada, vi o desejo de me tornar mãe crescer dentro de mim de forma orgânica e natural. Acho que, de certa maneira, esse meu senso de liberdade e de querer conquistar outras coisas além da maternidade é o que tem me ajudado. Eu me vejo como uma pessoa feliz e extremamente realizada, de verdade. Pra mim, a maternidade trará um novo tipo de felicidade, mas não é o meu único caminho para a felicidade.
Eu estava bem tranquila no começo e acabei gastando, a cada mês, mais do que devia em testes de gravidez #quemnunca. Depois de alguns meses tentando, comecei a estudar para o GMAT e a me preparar para começar o MBA, então acabei esquecendo um pouco. O primeiro ano de MBA foi tão estressante e cansativo que eu entrei na mentalidade de "vai ser bom se acontecer, mas estou okay também se não rolar de engravidar". Depois que terminei meu estágio e voltei para casa, me dei conta que o tempo que estávamos tentando "naturalmente" era anormalmente longo e resolvi procurar ajudar médica para diagnosticar ao invés de ficar especulando o que tinha de errado com a gente.
Fiquem avisados: Exames para testar fertilidade são extremamente invasivos. Eu não tinha ideia! Não vou detalhar cada exame que fiz, mas basta dizer que muitas vezes saí chorando deles. Depois de um exame particularmente difícil, comprei três cupcakes bem gigantes, fui pra casa, tomei banho, deitei às 5 horas da tarde na cama de pijama e fiquei comendo cupcake enquanto assistia Friends. Foi uma experiência horrível—mas foi necessário passar por tudo isso. Descobrimos que eu tinha um fibrose séria (tumor, não cancerígeno) dentro do útero e endometriose. Em menos de um mês depois da bateria de exames, já estava fazendo uma cirurgia para corrigir tudo.
O meu médico queria que eu já começasse tratamentos para engravidar um mês após a cirurgia, mas eu disse não pelo seguinte motivo: Não importa o quanto eu queira me tornar mãe, eu também preciso ter tempo para processar tudo. Em menos de um mês fiz uma bateria de exames invasivos e duas cirurgias (que aconteceram de uma vez só). Eu não estava em condição mental de processar o início de um tratamento pesado de fertilidade em conjunto com o meu último semestre de mestrado. Era muita coisa de uma vez só. Eu me dei tempo, o que foi muito bom pra mim. Claro que algumas pessoas já querem tentar logo e bom pra elas, mas se você precisa de um tempo para processar, como eu precisei, se dê esse tempo. Ninguém vai morrer por causa de alguns meses.
Até o momento essa narrativa tem sido muito pela minha perspectiva porque sou eu contando a história, mas como todo enredo tem um coadjuvante, o meu coadjuvante é o Rob. Ele é e tem sido maravilhoso. O apoio dele foi e tem sido super necessário durante todo esse processo. Ele também fala a real quando preciso e começo a ficar estressada, o que me ajuda a voltar com os pés no chão. É a medida necessária de conforto e realidade para mim. Esse equilíbrio entre as duas partes é muito necessário durante todo o processo.
Enfim, até o momento não estou grávida. Mas como disse, estou passando por todo o processo com tranquilidade e sabendo que, mesmo se não acontecer, eu já sou uma pessoa muito feliz. Para mim é o que importa.
Além dessa história, aqui vão algumas coisas que tem me ajudado também durante esses últimos anos.
Nunca se compare com ninguém. É só você começar a tentar engravidar que de repente todas as mulheres do planeta engravidam—menos você. Isso é fato e deveria ser comprovado cientificamente. Haha. É muito fácil começar a ficar chateada por conta disso. Mas sério, nunca, nunca, nunca se compare a ninguém. Uma coisa que sempre fiz pra evitar a inveja é lembrar que se eu quero ficar grávida (ou ter o carro, a viagem para a Indonésia...) que nem a fulaninha é porque eu quero ser ela. Mas será que eu quero mesmo? Porque quando você quer ser uma pessoa, você tem que aceitar também os pais dela, os irmãos, o marido ou namorado, os problemas, os altos e baixos. Você quer tudo isso? Toda a bagagem? Então não perca tempo sonhando em ter um pedacinho da vida da fulana se você não quer realmente viver como aquela pessoa.
Relaxar e ficar tranquila nem sempre funciona. Todo mundo acha que tem a cura do problema da infertilidade. Que casal tentando engravidar nunca ouviu um "é só ficar tranquila, relaxar que você engravida"? Só sorria e ignore. Sério. Todo mundo tem uma história unicórnio da fulaninha que não conseguia engravidar e na hora que esqueceu engravidou, mas isso nem sempre acontece. Não está conseguindo engravidar? Vá ao médico. Corte o mal pela raiz.
As pessoas não sabem como te confortar. Pra começo de conversa, ninguém sabe o que fazer com uma pessoa doente e, querendo ou não, infertilidade cai—para muitos—na categoria doença. Só tenha paciência. Muitas vezes as pessoas são bem intencionadas! Agora, se você é uma pessoa que não tem problema de fertilidade mas está no time que sempre diz "ah não se preocupe que vai dar certo, você vai engravidar", apenas pare. Sério. Pare de falar isso agora. Você não sabe se a pessoa vai conseguir engravidar. Apenas pergunte como a pessoa está ao invés de se sentir na obrigação de dizer algo. É simples assim. :)
Pessoas ruins e negativas sempre existirão. Eu sei de fato que já falaram que até hoje não consegui engravidar porque é castigo divino, porque não conheço o meu lugar de esposa e fico querendo ser independente. Ai gente, eu tenho preguiça desse pensamento retrógrado e não vou nem perder meu tempo rebatendo. No final, é isso que eu faço mesmo: Não perco meu tempo. Só me afasto. Se você tem gente com essa vibe do mal a sua volta, faça o mesmo: Se afaste e ignore.
Vai ter dia que você vai se sentir down e é normal. Eu não tenho problema nenhum em conversar sobre a minha jornada (como você pode ver pelo textão), mas falar sobre isso incessantemente pode me fazer mal. Ano passado quando fui pro Brasil, te juro que tinha que discutir isso pelo menos uma vez por dia com alguém. Essas discussões eram sempre seguidas da pergunta "quando você vai ter filhos?". Foi demais para mim e fiquei muito chateada mesmo, chorando e achando que tinha algo de errado comigo. Porque né? Eu acho que até que fiz muita coisa interessante nessa vida, mas se é só isso que aparentemente importa e obviamente não estou conseguindo cumprir com a agenda da expectativa, provavelmente tem alguma coisa errada comigo. Na verdade não tem nada de errado. Nessas horas, dê um tempo de quem está sempre na cobrança, compre uma coisa linda pra si mesma, vá fazer as unhas do pé, passeie e esqueça. Cuidar de mim mesma sempre me ajuda a colocar tudo nos eixos.
Espero ter ajudado.
Com amor,
Mônica
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