Tenho quase 30 anos


Tenho quase 30 anos. Fico repetindo essa frase de vez em quando, de forma aleatória, para ver se consigo entender que isso está para acontecer. "Preciso ter filhos. Já estou com quase 30 anos!". "Esse creme para os olhos é excelente. Já estou com quase 30 anos anos". "Minha meta para este ano é ler mais livros clássicos. Já estou com quase 30 anos". "Finalmente aprendi a cozinhar. Já estou com quase 30 anos".

Não tenho medo da idade. Não tenho medo de completar 30 anos daqui a dois anos. O que assusta é que ainda não sou aquela pessoa que achava que seria. Quando a gente está crescendo, acha que aos 30 a vida vai ser outra. Um guarda-roupas com muitos sapatos, sucesso profissional, a certeza do que se está fazendo, opinião formada sobre política e livros e a força para enfrentar dinossauros. No fundo, acho que não sou essa mulher de 30 anos.

A verdade é que ainda me vejo como aquela menina que senta no chão na hora do intervalo, conversando numa rodinha com os amigos do "terceirão", ou como aquela garota de dezoito anos que acabou de descobrir o mundo. Me vejo como a menina que gosta de ler gibis da Turma da Mônica deitada no sofá da casa da avó, como aquela que rouba sobremesas escondido do pai. Eu ainda sou essa menina e incerta se sou essa mulher de quase 30 anos.

Dizem que os seus pais te vêem como uma eterna criança, mas acho que o mesmo pode ser dito de si mesmo. Ainda sou uma menina, a mesma Mônica de 15 anos atrás. Me vejo de dentro para fora, e por isso fica difícil ver o que mudou por fora. Ou talvez as mudanças tenham sido tão graduais durante todos esses anos, tão cisquinho por cisquinho, que não consigo enxergar direito a mulher que me tornei.

E enquanto vivo a minha vida de "gente grande", sinto um friozinho na barriga pelas aventuras de cada dia. Talvez não tenha me tornado a mulher que achei que me tornaria, mas diria que estou a caminho de algo. Já enfrentei muitos dinossauros e saí viva da batalha. Sei quem sou e para aonde estou indo. Será que no final é isso o que significa ser gente grande?

Já estou com quase 30 anos.

ps. Não tem como escrever esse texto sem pensar na música da Sandy, "Aquela dos 30". E olha que eu nunca gostei de Sandy.

"Hoje já é quinta-feira
E há pouco eu tinha quase 20
Tantos planos eu fazia
E eu achava que em 10 anos
Viveria uma vida
E não me faltaria tanto pra ver"

3 comentários

Unknown disse...

Seja aos 10, aos 20, aos 30, ou aos 100 - acho que a gente sempre vai ter esse sentimento de ser "jovem pra ser velha, e velha pra ser jovem". Aos 15 somos velhas demais pra brincar de bonecas mas jovens demais pra passar maquiagem escura e usar salto 15. Aos 25, seria ridiculo fazer uma festa aonde se precise usar um vestido bufante, e mais ridiculo ainda comemorar o aniversario em um cruzeiro do Roberto Carlos. Acho que esse sentimento de inadequacao, de nao se encaixar na idade, de nao saber se a sua idade cabe nos seus planos ou os seus planos na sua idade, eh a coisa mais normal do mundo. Seja qual for a idade, sejam quais forem os dinossaros, sejam quais forem os planos, como disse o poeta Pessoa, tudo vale a pena se a alma nao eh pequena. Vale a pena ate fazer o que quiser e ser quem desejar, independente de quantas primaveras ja ficaram para tras!

Monica Lunardelli disse...

Irmãzinha, já falei e volto a repetir: Você tem que voltar a escrever! Te amo.

Anônimo disse...

Mônica, a boa notícia é que você não está sozinha. Tem muuuita coisa q não saiu como planejei, outras eu não planejei mas aconteceram... existe também a vontade de voltar no tempo e mudar algumas coisas. E o tempo? Puxa, o tempo parece muito escasso diante da vontade de fazer tantas coisas... Li em algum lugar que "no final, não são os anos de sua vida que contam, mas a vida de seus anos". Talvez seja por aí... se somos jovens, meninas ou mulheres, não sabemos. Mas somos, acima de tudo, felizes.